terça-feira, dezembro 26, 2006

DESCARNADO

de Oscar Portela
(a Mari Carmen)

Apagar-me, sim, apagar-me, não estar já,
não ser, levitar como uma estranha núvem
junto a esse Deus efêmero
que em meus sonhos floresce
e assim permanecer “desencarnado”
sonhando na vigília e os sonhos
atento, sem saber já se vivo,
ou no Érebo estou, junto a Maria Estela,
oscilando como o pistilo
de uma flor de Ouro, ou eu, cansado já
das prisões da carne e
o tempo, das feridas e traições
que a solidão traz consigo,
imóvel, frágil, só, imóvel, junto a Maria Estela
aonde meus cegos olhos
não contemplam mais nada
deste mundo onde triunfa o abismoda terrivel liberdade que possui
e que atrai mesmo assim
com a força do Caos, do abismo
sem fundo: assim queria estar
como invisível pássaro, na rama invisível
de um invisível amor, ai,
qual nuvenzinha etérea, já solitário canto,
já apenas sopro, já apenas poema,
sem dizer senão nada, tudo pequena alma invisível de um fulgurante instante


Corrientes, 18 de fevereiro de 2005

Um comentário:

Vera Laporta disse...

Descarnado
Original de Oscar Portela en castellano
(a Mari Carmen)

Borrarme, sí, borrame, no estar ya,
no ser, levitar como una extraña nube,
junto a ese Dios efimero
que en mis sueños florece,
y así permanecer, "descarnado",
soñando en la vigilia y los sueños
atento, sin saber ya si vivo,
o en el Erebo estoy, junto a María Estela,
oscilando como el pistilo
de una flor de Oro, o yo, cansado ya
de las prisiones de la carne y
el tiempo, de las heridas y traiciones
que la soledad trae consigo,
inmovil, fragil, solo,inmovil, junto a María Estela
donde mis ciegos ojos
no contemplan ya nada
deste mundo donde triunfa el abismo
de la terrible libertad que poseé
y que atrae hacia así
con la fuerza del Caos, del abismo
sin fondo: así querría estar,
como invisible pájaro, en la rama invisible
de un invisible amor, ay,
cual nubecilla etérea, ya solo canto,
ya solo soplo, ya solo poema,
sin decir sino nada, todo almita invisible de un fulgurante instante.

Corrientes: 18 de febrero del 2005