ÂNGULOS

de Oscar Portela

A Alfredo Mariano García

Depois da faina esgotante,
a fadiga, o cansaço, a angustiante solidão
sentindo-se a si própria na cruz,
- os ângulos iguais, o vazio que enche o centro do
nada – e a imagem de um rosto
que não se vê. Atrás ficam as sestas.
Ardor insuportável de ser e saber-se vencido
pela implacável sede. Ao longe ficam imagens
suspensas em códigos e misteriosos
vínculos de azul, e o azar,
o sal e as rapinas de corpos devorando-se
Na magnificência de uma noite absoluta.
Também as tivestes? Depois das jornadas
de dor, o porque e as asas que voltam
ou em círculos vigiam sobre um dolente coração.
O que fala, o que escreve para calar,
muda para pensar sustentando-se
no abismo de um enigma, florescido como uma
boca pura em minha virilha, é apenas um morto,
um virginal desejo que adormeceu a teus pés.
Depois da fadiga, a solidão dizendo a si
mesma, re-enviando-se dúvidas, atas de nascimento,
diários de viagem, atormentados pêsames e
uma pomba com a asa quebrada. Cerimônias do
que resta do dia, desoladoras imagens, risos
no vazio e a morte furtiva atrás do medroso
olfato da razão, inquirindo as formas e os
perfumes de tua pele, sonhando, atormentando-se
em defumadores, que buscam um sepulcro aonde permanecer
em sombras e em vacilantes ecos. Apenas um Deus
pode nos salvar agora. Nem nos celestes coros
nem nos cegos abismos, alguém guarda respostas
para ti. Depois daquilo que resta do dia, da espera
doída, seria suficiente, piedosamente desaparecer
das memórias, os espelhos, os nomes e clamores
que abrem e dão consolo ao tempo. Não uma viagem a mais,
não uma jornada, senão a ardente véspera do adeus
até a noite austera onde teus belos olhos
jazem velando-se no vazio do vazio.