de Oscar Portela
Branca é esta página e gelada como a solidão
Do corpo meu. Flui atrás do cristal como a vida
Que é morte e rio, obscuridade e endríacos.
Ah, já sei, o sei. Que mais dá, estar mortos
Ou estar vivos? Acaso o Outro levaria isso em conta?
Já o hei comprovado. Apenas à solidão confio
Os augúrios do tempo. Sou invisível ao Outro
E à sua porfia. Morto me fiz já para o desejo às custas
Que leva em si os encontrados reinos do poema.
Estou de volta. É noite e o dia me angustia.
Todo humano é hostil às minhas ilusões.
Apenas, e somente confio ao verso as ladainhas
De vagos pensamentos. O sol me escalda.
O triste cinza aço dos céus o sono não me tira.
Não há albergues. Desabitado estou como Carfax
Em Ruínas e sozinho entro na noite na qual vivo.
Todo outro é ausência. Apenas ausência. Os chamados
Foram mortos nas estepes e o uivar bronco e espasmódico
Murcho está agora sob o áureo gelo.
A que escrever então se o círculo vicioso
Repete o estribilho eternamente?
Que verter em branco as penúrias da terra indigente
Que pariu lobos na brancura dos sonhos?
Ninguém sabe se estou ou se já fui.
A ninguém importa este destino
Certo que tem por verdade a urna já eleita
E ninguém o saberá quando o nada entre em silêncio
Sem chamar sequer. Alguém me espera em meio à sarça-ardente
Sua voz vibrante é doce e sua figura altiva de Adão desnudo
E sem pecado algum, nem redenção, nem Paraisos idos,
Me leva até outras portas nunca abertas.
Que importa agora se sonho tudo isto?
Não vivo no deserto. Se a noite e o inferno
Temido é o desejo que vibra entre meus lábios
Quando sonho...
Ali a sarça segue ardendo sozinha
Como meu coração no deserto.
Corrientes - Argentina
23 de junho de 2007
Nenhum comentário:
Postar um comentário