Foto: Borboleta do espectro - Vera Luz
Assim divinizar a morte fazendo possível o impossível
Mas de que outra maneira justificar a vida que outra coisa não é
que trabalho da morte sobre a alma do corpo
se não convertendo uma caveira em crisântemo?
A morte atada à justiça e a vida às Moiras
que coabitam com a justiça de modo ambiguo
A vida e seus espelhismos todos não são se não trabalho
da morte que se glorifica de si em um formoso corpo,
Em semeaduras de espigas amarelas, em doces águas,
E nos tórridos verões e o gelo – o gelo com que coroará
sua obra, as fúrias desatadas de elementos com que constrói
A habitação da fada e nós embaraçados de sonhos
Surgidos da catedral da qual voa um anjo, os intestinos
Nos quais deveremos semear o ouro de Memling que requer
A morte para divinizar-se e assim justificar e embelezar a vida
Que seu final ousa o coro de Arcanjos com que premia
a dor da perda, a dolorosa saída daqueles que amamos e
as estéreis buscas do Velo de Ouro.
De que vale o caminho se não logramos engendrar um Anjo
com que a morte se coroe quando nos despeçamos da terra?
Terra – morte - vida e teus lábios quando levante vôo para
A volta – do nada para o nada – e a Aleluia de toda despedida
Que diz sim porque a vida se coroa na morte – porque a morte
diviniza a vida limpa, branca, pura como os dedos marfilíneos
do amante ao qual atados nos manteremos em sonhos.
Corrientes, setembro de 2009
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