domingo, maio 25, 2008

A BUSCA

de Oscar Portela
poema em três movimentos e autobiográfico

ABERTURA

Nasci desnudo todo pele co-extensiva ao mundo
Longo foi o alarido.

O parto do co-nascer daquele alumbramento
no qual abria as pálpebras sem ver
foi a abertura e o denso duelo
que permitia sair da caverna e ver a luz,

Ouvir os pássaros, sentir de novo a água,

Abrir-me ao mundo da intempérie
sem fim do infinito – contra-intempérie
do amor e a morte
Do raio que timonea o universo.

Nasci desnudo como quando
depois realizei os feitiços que lentamente
me conduziram a teu corpo
Que hoje transporta meu nome.

Busquei amparo na tibieza de minha mãe
e o assombro chegou até mim
das mãos das toscas planicies amarelas e os espectros
de uma paisagem selvagem,

que feria as pupilas da criança com frenético
ardor, me amparei nas palmeiras
e os sonhos dos largos invernos,
tapei minha nudez, senti a calidez
e os aromas que guardaria já para sempre
nas memórias do olvido
tal a guarda do ser no silencio.

Assim me abria à soçobra de ser desnudo
já para sempre todo pele,
todo angustia de pele
e de sentidos, o tato de minhas
mãos impías e meus olhos fanais de luxúria

A lascívia de um corpo confundido
com brancos jasmins do verão
ao doloroso vermelho já para
sempre rabdomante de ventos
e liras que a intempérie sem fim
pôs em minha mãos.

Daquele relámpago de Zeus nasceu minha sede,
de teu trovão, os espantos e gozos
dos sentidos todos, de seu raio, o pó
das cinzas que esparge hoje o vento
nas ladainhas que abrem
o tempo das interrogações
e o poente final de uma intempérie
que hoje termina
com esta minha história

Eu era a criança das angras e os arrulhos
de pombas, a criança da música das
chuvas dos largos invernos,
a criança que se mirava no espelho
das alvoradas e se escutava
no chirrio dos monos
a criança destroçada por Lear

A criança dos aromas da goiabeira
um pequeno Narciso hoje quase cego
que enganava seu corpo sem saber todavia
que avería de encontrar
em teu corpo enjoiado
o mundo no qual não havia
nascido todavía.

A criança já não está mais comigo.

Mas no silencioso diálogo
busca aquele perdido mundo das violetas
nos cánticos e promessas do futuro
E está aquí o que prometo todavia

Toda promessa é um desejo não cumprido
e ainda que as visões foram exorcizadas
nas longas ladainhas, aquí estou todavia
desnudo todo pele e aberto
à mudez do ouvido sobre
a terra no passado.

(...)

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